quarta-feira, 15 de junho de 2011

lua cheia

ao andar pela rua naquele dia, encontrava-me cansado, tinha pressa de chegar em casa, mas com passos pesados de quem carrega a cruz do dia. era noite, precisava me encontrar em casa para tomar um banho e jogar toda minha atenção em livros pois as provas encontravam-se perto. 

ao contemplar o céu por acaso, percebi uma lua cheia, bela, linda, em destaque na abóboda escura, sem núvens e com esparsas estrelas, que estavam de fato presente aos milhares, mas as luzes urbanas grosseiramente as ofuscavam sem a devida licença. linda noite, a temperatura era branda, assim como a brisa. ao olhar para o astro brilhante, parei, as ruas estavam vazias, portanto, não passaria vergonha alguma... admirei tal beleza natural e imaginei inutilmente quantas pessoas estariam olhando algo tão simples, estático e hipnotizante e pensando como eu em um ciclo coletivo de reflexões. em tal ponto depois de alguns minutos divagando tal anedota, escorei minhas costas em alguma construção qualquer e resolvi ir além...

fixei em minha mente a imagem da lua, fechei meus olhos e me vi em um terraço de um alto prédio com um rosto conhecido com os quail gostaria de dividir tal momento. meu melhor amigo surgiu colocando a mão em meu ombro e me dando dizendo 'e ai' com um ar informal. perguntou-me o que fazia ali, respondi-lhe que só queria mostrar-lhe tal céu, ele riu, sacudiu a cabeça entendendo que seu melhor amigo comumente venerava momentos como aqueles e sentou-se em algum lugar por ali, em ar de pausa longa, falamos sobre a rotina da vida de cada um e ao despedir-se levantando-se pôs a mão em meu ombro e saiu com ar de quem irá conversar comigo amanhã novamente.

sorri com o canto da boca e imaginei uma figura feminina, com atitude franca e jeito suave de expressar-se, perguntou o que eu fazia ali e o que eu tanto olhava distante sem piscar, não a conhecia, preferi não olha-la, apenas conversar e dividir com ela meu mundo das idéias. ao responder com ar irônico que apenas olhava o céu com uma bela lua sobre um mundo com pressa demais para entender 'um momento' ela não mudou seu tom, ficou séria, disse-me que eu não deveria dizer sobre as pessoas pois não conhecia a esmagadora maioria, mas que de fato a noite estava bela. pareou a distância a minha, mas ao invés de sentar-se, escorou-se lateralmente, a distância próxima e nada disse por alguns minutos. estava gostando de tal ambiente e não me senti constrangido pelo silêncio pois sabia que ela não iria embora, esse céu tinha significado pessoal também para ela.

quebrei o silêncio dizendo que agradecia a simples compania e o belo silêncio combinado com aquela noite, disse também que ela certamente não era pessoa comum para perceber tal noite e pensei em lhe dizer o quanto gostaria que alguém como ela surgisse no meu mundo real. novamente fui criticado por não conhecer a maioria das pessoas. ela então andou até a minha frente, olhou-me, tocou minha face com a palma da mão e disse que eu precisava crescer para encontra-la. não consegui ver sua face pois o brilho da lua era muito forte e com o mesmo ar de mistério que apareceu, esvaneceu ao fechar meus olhos com seu toque.

ao abri meus olhos novamente estava no terraço só, ao suspirar pela compania perdida, sentou-se ao meu lado meu pai, um grande ar de choro enrolou-se sobre minha garganta e ascendeu aos meus olhos que encheram-se de lágrimas. disfarcei, mas minha garganta doía. meu pai era figura importante, talvez a mais importante, era meu super-herói particular, muito mais preparado para o mundo do que eu jamais serei em minha vida. gostaria muito de conviver com o ele e aprender o máximo, mas era tarde demais, disse-me que sentia-se culpado demais para ser algo além de meu amigo. aceitei sua proposta as custas de uma distância próxima que me dizia muito pouco sobre tal figura. agora ali parado, com ele ao meu lado, eu me fazia tentar conversar sobre assuntos imbecis, pois estava nervoso. disse-me ele, em algum momento, que estava ali pois eu gostaria que estivesse, disse-me que as forças que movem os grandes corações são a vontade, verdade e o amor.

segundo ele quem segue a verdade precisa ter vontade para manter-se firme, caso contrário cairá na mentira. acrescentou que a verdade parece afastar o amor, mas que na verdade apenas ilumina o amor real como uma luz negra destaca tons invisíveis. pausou um momento, olhou para mim e disse que se eu não fosse seguidor da verdade não teria percebido tal noite, mas que minha vontade se abalara pelas dificuldades da vida. instruiu-me para erguer minha vontade e ir viver e que eu me surpreenderia com os resultados daquelas duas simples qualidades atuando no mundo real. chorei, abracei-lhe fortemente e disse que desejava que estivesse ao meu lado sempre. ele retrucou-me perguntando como encontrei lugar tão bom pra ver a lua, quando olhei para a mesma e fui responder meu pai havia sumido. chorei novamente silenciosamente e decidi sair daquele terraço.

abri meus olhos no mundo real, havia passado apenas 10 minutos, eu estava emocionado ainda, encontrava-me triste, pois refletira minhas perdas e inconquistas em uma paisagem tão bela, pareceu-me injusto. segui meu caminho até minha casa com minha mente quieta. acho que apenas precisava desabafar com alguém. desabafei comigo mesmo através de meu amigo celeste. olhei a uma última vez antes de adentrar minha casa. reverenciei mentalmente sua bela existência e continuei minha vida apressada.

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