domingo, 12 de junho de 2011

a difícil decisão da entrega

     internet, email, celular, redes de relacionamento, encurtamos as distâncias entre nós seres humanos sob a promessa de uma realidade menos solitária, com mais atenção, mais pessoas novas, mais amizades, mais festas, mais amor, mais sexo. 
    o desejo de reconhecimento social resultando na busca de alguma forma muito pessoal e particular de status, levou-nos a criação desse mundo globalizado, virtual, rápido e facilmente desinteressante aos olhos de quem procura algo. "a fila anda" hoje em dia! "durma na no ponto e perderá o onibus!". raramente, para não nihilizar com um praticamente nunca, as almas todas em uma frenética busca da ilusão do "eu liberto, realizado e independente", percebem que a própria velocidade do mundo leva uma confusão grosseira: a quantidade pode levar a alta qualidade.
     a realidade acelerada proporciona quantidade, e quantidade somente, dai o inerente vazio e solidão da maioria esmagadora das pessoas. evoluiu-se o fato de que o ser humano é um eterno descontente, agora é também um eterno solitário. com o agravo óbvio do mundo do capital que vê na pressa um alto potencial de lucro e assim investindo em tal ambiente e mergulhando nossos sentidos no mesmo. é vendido hoje o poder da aparência nos meios todos.
     em suma, temos um mundo rápido, aparentemente promissor, onde os mais lindos corpos e intelectos são acessiveias a velocidade de um click.
   a partir desse perfil, fica relativamente complicado acreditar na existência de algo como sentimentos brotarem de forma natural, já que transformamos geneticamente o amor em um transgênico que pode ser produzido, comprado, mas não gera sementes. 
   como acreditar em algo verdadeiro, que germine tímido e pequeno, em algum solo qualquer e que se cuidado se torna grande e forte? esse algo quando se fecha os olhos, possui temperatura morna ao corpo e quando trazido ao peito provoca alívio e conforto, como um cobertor grosso em um dia de frio, que relaxa e nos embala ao sono. descrevo o amor, obviamente, abstrato que só ele...
     a realidade fria é o ambiente urbano enquanto o ambiente do amor é pastoril, mais calmo, sereno, onde os dias são tratados um após o outro, e já que todo o dia a lavoura exige tarefa e dedicação, a pressa aqui não serve.
     entretanto, estamos em plena época de êxodo rural, cada dia mais e mais almas desacreditam no potencial da tranquilidade e se contaminam com o vírus do imediatismo. e para os caipiras, as coisas tornaram-se difíceis, um medo de que o mundo rural deixe de existir é uma constante, e a promessa de novas sementes é amedrontante.
     simplesmente, amar alguém hoje, para um caipira é tarefa árdua, o povo da cidade sempre os viram como devagares ou 'burrinhos', e algo bobo aos olhos dos segundos é motivo de desdém. a ridicularização pôs os caipiras pra dentro de suas casas, vivem a pouco se mostrar, e quando escolhidos, lutam, relutam e pouco se entregam, já que a tendência é mais uma bela decepção.
     deveriamos freiar o tempo, aceitar as pessoas reais e abolir as virtuais, olhar mais no olhos, acreditar mais na tranquilidade e menos na impaciência. deveriamos fixar mais a nossa atenção em detalhes para que algo com potencial enraizasse muito mais fortemente, detalhes são os melhores adubos, questão de treino. 
    deveriamos lutar um pouco mais com o coração, para que a decisão da entrega tenha menos cara de decepção e mais cara de oportunidade, e por fim, que ela não seja tão difícil e dolorosa, mas sim natural e bela.

Nenhum comentário:

Postar um comentário