domingo, 29 de abril de 2012

cumulonimbus


chove ao meu lado,
chove em mim,
chuva serena,
chuva sem fim.

lava meu rosto,
lava-me o cenho,
fecho meus olhos,
esqueço de mim.

vou ao seu meio,
nada me cubro,
faces ao alto,
meu porto seguro.

assim sou eu livre,
senhor da chuva,
molhado de corpo,
lavado de alma...

a noite se vens,
me jogas em berço,
embalo sedoso,
escuto com calma...

lambe meu ouvido,
murmúrio sereno,
gozo-me em paz,
embalo pro sonho.

olhos fechados,
quase desperto,
sorrio contente,
assim me despeço.

chuva serena,
chuva bem-vinda,
enche-me a força,
acalma-me a vida

sábado, 28 de abril de 2012

morte e vida jesterina


e assim foi que deu-se,
em meio ao mar de breu,
fui golpeado pelo ar,
meu chão fora roubado.

e assim foi que se deu,
me vira caindo ao chão,
o mesmo que não existia,
celere pulso derradeiro...

ao que desistira do ar,
do chão e da esperança,
senti de certo conforto,
a paz intangível do fim.

quando de súbito caí,
ao impacto nada senti,
estava livre do medo,
era água afinal.

meu corpo cobria-se,
cada centímetro em frio,
frio abraço líquido,
nada via apenas sentia.

estava vivo novamente,
agora nadando pelo ar,
que antes abandonara,
agora importava vilmente.

e assim foi que se deu,
um devaneio em sonho,
me fez útil confidência,
vida sádica e irônica.

morra e encontre a vida,
viva e conheça a morte,
paradoxo indecifrável,
mas por certo que útil.

ao quase morto as batatas,
vivo e alerta o morto,
insatisfeito o vivo,
morrerá por certo de tédio.